No meio dos meus planos de superação, minhas falas ensaiadas e minhas
tantas loucuras, apareceu você. Sentei pra descansar de mim e, quando
olhei, você já tava do meu lado. Não quis mais levantar. Eu pensei em
agendar uma hora pra ser imprevisível, mas você tava me desconcentrando,
me desconcertando. Eu morria de vergonha e me sentia a vontade. Eu
tinha medo e me sentia segura. Eu tava do avesso e com uma vontade
estranha de ficar. E toda a minha falta de jeito é porque, ainda que eu
queira, não sei fazer isso. Então facilita pra mim. Se eu ameaçar ir
embora, me abraça. Se te der vontade de levantar, deita em mim. Não
surta, não planeja, não bloqueia, não recua. A louca sou eu e tô aqui,
quietinha. Não estraga.
Não é raro, tropeço e caio. Ás vezes, tombo feio de ralar o coração.
Claro que dói mas tem uma coisa: a minha fé continua em pé. Tudo que é
verdadeiro, volta.
Fiquei anos esperando o tempo passar e levar junto tantas coisas.
Sentei, acampei, desisti e nada. Levantei e fui pegar um café, um amor.
Quando voltei, não é que ele já tinha passado? Acho que o tempo não
gosta de ser visto, esperado, desesperado. A gente quase enlouquece
esperando e ele fica ali, calmo, esperando uma distração nossa.
De que adianta você esconder tua vida de mim, se ainda habito teus
pensamentos, todos os dias? Se me bloqueia ou me exclui de algum lugar é
porque ainda lembra de mim, ainda sou teu ponto fraco. Então que se
encerrem os joguinhos e admite de uma vez que tudo aí ainda é meu, ainda
que esteja com outra. Não nega que é meu nome que você quer chamar,
quando sente falta de um carinho mais sincero. Fingir que eu não existo
não vai mudar minha existência e os efeitos dela na tua vida, que você
tenta seguir, mas sempre acaba tropeçando em mim. Quero cartas na mesa,
preto no branco. Sem voltar atrás, sem arrependimentos, sem planos pro
futuro. Só quero que você assuma que é em mim que pensa antes de dormir,
sou eu que te domino mesmo de longe, são lembranças da gente que te
fazem sorrir. Nada de querer convencer a mim e o mundo que outro corpo
anda ocupando meu espaço e te preenchendo. Tudo continua vazio, porque
eu continuo fora de você. Não saber de mim pode te assombrar menos, mas
nunca vai me anular dos teus dias, tuas noites, tua vida. Admite.
Penso sempre que um dia a gente vai se encontrar de novo, e que então
tudo vai ser mais claro, que não vai mais haver medo nem coisas falsas.
Há uma porção de coisas minhas que você não sabe, e que precisaria saber
para compreender todas as vezes que fugi de você e voltei e tornei a
fugir. São coisas difíceis de serem contadas, mais difíceis talvez de
serem compreendidas — se um dia a gente se encontrar de novo, em amor,
eu direi delas, caso contrário não será preciso. Essas coisas não pedem
resposta nem ressonância alguma em você: eu só queria que você soubesse
do muito amor e ternura que eu tinha — e tenho — pra você. Acho que é
bom a gente saber que existe desse jeito em alguém, como você existe em
mim.
Acredito que quando alguém chora sem motivo é para aliviar todas as
vezes que ela engoliu o choro e colocou um sorriso falso em seu rosto.
Não quero lembrar. Faz mal lembrar das coisas que se foram e não voltam.
(…) Agora já passou. Não sinto raiva, não sinto nada. Sinto saudade, de
vez em quando. Quando penso que podia ter sido diferente.
Caio F. Abreu
E foi assim que eu, finalmente, voltei pra única pessoa no mundo que
nunca me abandonou ou desmereceu: eu mesma. Foi desse jeito meio torto,
meio bruto que eu voltei pra mim. Foi depois de me doar e me doer tanto
que eu percebi que não vale à pena. Não vale porque se uma pessoa te
fere mais do que te cura, isso é doença e não felicidade. É câncer e não
amor. Viver de anestesias, dor e mais anestesias é sobreviver e só. Me
recuso.Coração vazio e sorriso cheio, que assim seja. Os arranhões já
não me doem, cada decepção eu levo como vacina. Dessa vez prometo não me
abandonar, me deixar de lado ou me diminuir por ninguém nesse planeta.
Se não tiver jeito, posso até me emprestar, me dividir quem sabe, mas me
perder nunca mais. Agora é assim, primeiro eu. Quem não gostar das
regras, não joga. Tô feliz, acredita ? Olha só a irônia, fui buscar o
amor e já tinha. Fui tentar ser feliz e já era. Fui tentar me encontrar e
me perdi. E, que loucura, precisei me perder pra me valorizar.
A vida é assim, de pernas pro ar. Quando você acredita que uma coisa vai
ser pra sempre, ela termina. Você jura que não quer se envolver e nem
criar nenhum tipo de expectativa, mas já tá pensando em como ele vai ser
um bom pai e que um filho de vocês teria o cabelo bonito. Você desiste
mil vezes, antes de desistir de vez. Você cuida tanto pra não magoar
alguém e, de repente, ela que te machuca. Meu mal talvez tinha sido
esse, tentar proteger, entender, cuidar tanto de outra pessoa e ir, sem
perceber, me deixando pra outra hora sempre. Meu pecado foi me deixar
acreditar que dessa vez poderia ter sido diferente, mesmo sabendo que
esse pensamento é a maior armadilha do mundo, eu, boba, resolvi
arriscar. A vida é assim, espertinha. Você pode passar o tempo todo ali,
preparada, mas basta um segundo de distração, que já era, nocaute. Sou
adepta ao “o que não me derruba, fortalece”, não me arrependo de nada,
só cresço e sigo em frente. Valeu, tô menos boba, mais madura, mais eu. A
propósito, queria deixar meu agradecimento a cada idiota que já passou
pela minha vida. Um dia me fizeram chorar, hoje me fazem rir. Aliás,
sempre que eu perco alguma coisa e não entendo, eu penso em vocês pra
lembrar o porque de certas coisas virarem passado. Só não lembro de como
um dia foram presente, vai saber né. A vida é assim, tudo no seu tempo