quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Os seres que se reproduzem são distintos uns dos outros, e os seres reproduzidos
são distintos entre si como são distintos daqueles que os geraram. Cada ser é distinto de
todos os outros. Seu nascimento, sua morte e os acontecimentos de sua vida podem ter
para os outros certo interesse, mas ele é o único diretamente interessado. Só ele nasce. Só
ele morre. Entre um ser e outro há um abismo, uma descontinuidade. Esse abismo situase, por exemplo, entre vocês que me escutam e eu que lhes falo. Tentamos nos comunicar,
mas nenhuma comunicação entre nós poderá suprimir uma primeira diferença. Se vocês
morrerem, não sou eu que morro. Nós somos, vocês e eu, seres descontínuos.
Mas não posso evocar este abismo que nos separa sem ter logo o sentimento de
uma mentira. Este abismo é profundo, e não vejo como suprimi-lo. Somente podemos, em
comum, sentir a sua vertigem. Ele nos pode fascinar. Este abismo, num sentido, é a morte,
e a morte é vertiginosa, fascinante.
Tentarei agora mostrar que, para nós que somos seres descontínuos, a morte tem o
sentido da continuidade do ser: a reprodução leva à descontinuidade dos seres, mas ela
põe em jogo sua continuidade, isto é, ela está intimamente ligada à morte. É falando da
reprodução dos seres e da morte que me esforçarei para mostrar a identidade da
continuidade dos seres e da morte que são uma e outra igualmente fascinantes e essa
fascinação domina o erotismo.


Página 11 O erotismos de Georges Bataille

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