terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Recebo cartas notáveis. Elas são abertas, desdobradas e expostas diante de
meus olhos segundo um ritual que o tempo fixou e que confere à chegada do
correio um caráter de cerimônia silenciosa e sagrada. Leio pessoalmente todas as
cartas com grande zelo. Algumas até são muito sérias. Falam do sentido da vida,
da supremacia da alma, do mistério de cada existência, e, por um curioso
fenômeno de inversão de expectativas, são as pessoas com as quais eu mantinha
as relações mais fúteis que tratam com mais familiaridade essas questões
essenciais. A leviandade delas mascarava interesses profundos. Será que eu era
cego e surdo ou será que a luz de uma desgraça se faz necessária para iluminar a
verdadeira face de um homem?

O escafandro e a Borboleta.

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